UM TÍTERE DE SI MESMO: a imagem como interface dos jogos estabelecidos em uma Criação Sistêmica

Espaço de reflexão do mestrado em artes cênicas (UFRGS). A pesquisa tem por proposta central investigar de que forma as imagens virtuais podem agenciar processos criativos no campo teatral. Para tanto, elaborei uma metodologia onde a noção de “Criação Sistêmica” articula um jogo dinâmico de trocas de materiais criativos para a cena, através dos sujeitos participantes da pesquisa. O resultado cênico foi partilhado através do experimento prático “Um Títere de Si Mesmo”, onde imagens virtuais serviram de fonte de provocação e desestabilização entre os artistas envolvidos. Em memorial reflexivo, relato a caminhada e as inúmeras transformações habitadas pelas imagens: o texto, o corpo, o vídeo, a música, e a representação. Foram empregados materiais disponibilizados pela Internet e equipamentos como câmeras e projetores para construções virtuais sobre a cena. Em termos poéticos, a experimentação reflete a hibridação do ator com as mídias audiovisuais, observando princípios do teatro e da performance. Bolsa CAPES.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Começo




            O projeto foi concebido inicialmente como uma pesquisa teórica e prática a partir de biografia pessoal misturada ao uso das novas tecnologias e seus desdobramentos no palco. Todavia, no decorrer das aulas do primeiro semestre e dos encontros de orientação, cheguei a conclusão de que eu poderia acabar repetindo uma pesquisa que eu já havia feito ao longo  dos anos dentro da universidade como aluno, e fora dela como ator. Então transformei a proposta inicial e passei a me focar na relação do teatro com as tecnologias.  A  materialidade de tudo que ocupa o espaço da cena tensionado com as imagens feitas de luz seria a problemática a se refletir. O projeto enfim tinha se virtualizado: o corpo presente do ator versus seu corpo projetado, bem como as inúmeras superfícies de projeção possíveis(na fumaça, no chão e paredes do teatro, em bolhas de sabão e outros objetos geométricos, no próprio corpo do ator e etc).
            No entanto, as sementes de uma virtualização de outra ordem na minha cabeça começava a nascer. Pesquisar simplesmente essa zona de tensão não bastava. Parecia um material rico em potências mas vazio. Como um objeto brilhante mas oco, de frágil consistência. Além do mais, nas minhas aventuras constantes na Internet, que se tornaram um “hobby”  há muito tempo, me deparei com fragmentos em vídeo de espetáculos de toda ordem e vindo de todos os lugares do globo. Das pesquisas de superfícies de projeção ao aspecto relacional dos atores com as imagens projetadas. Novamente uma estranha impressão de que eu estaria repetindo experiências passadas.
            Foi então, depois de alguns meses de angústias e indeterminações, fase não isenta de potências e descobertas, pela qual passa todo mestrando, que cheguei a  questão a ser desenvolvida na minha pesquisa. Justamente o que as imagens destes espetáculos que eu garimpava na net não mostravam, foi o que começou a despertar o meu interesse; o processo de feitura daquilo tudo. Uma camada específica da encenação que está ali, na hora da sua apresentação mas permanece invisível para quem assiste. As  relações que teriam que se reorganizar no grupo, as novas demandas exigidas dos artistas envolvidos e as configurações que renascem na fronterira entre o teatro e novas tecnologias. E mais, como elas podem servir como uma fonte de provocação para os artistas envolvidos no processo criativo da cena. Virtualizar as tecnologias é transformá-las em um complexo problemático que desafie a equipe artística, e que a instigue a encontrar soluções criativas para o impasse. Nascia assim o experimento “Um Títere de Si Mesmo”.

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