Espaço de reflexão do mestrado em artes cênicas (UFRGS).
A pesquisa tem por proposta central investigar de que forma as imagens virtuais podem agenciar processos criativos no campo teatral. Para tanto, elaborei uma metodologia onde a noção de “Criação Sistêmica” articula um jogo dinâmico de trocas de materiais criativos para a cena, através dos sujeitos participantes da pesquisa. O resultado cênico foi partilhado através do experimento prático “Um Títere de Si Mesmo”, onde imagens virtuais serviram de fonte de provocação e desestabilização entre os artistas envolvidos. Em memorial reflexivo, relato a caminhada e as inúmeras transformações habitadas pelas imagens: o texto, o corpo, o vídeo, a música, e a representação. Foram empregados materiais disponibilizados pela Internet e equipamentos como câmeras e projetores para construções virtuais sobre a cena. Em termos poéticos, a experimentação reflete a hibridação do ator com as mídias audiovisuais, observando princípios do teatro e da performance. Bolsa CAPES.
A tecnologia aqui serve como uma referência virtual para
trazer a coluna para fora do corpo, para a camada mais superficial e, ao mesmo
tempo, mais profunda; a pele, já que é a substância que delimita nosso corpo
físico, que nos embala e promove trocas entre o dentro e o fora. Uma membranade dupla face que se comunica com o interior
e exterior ao mesmo tempo.
Como a câmera escura usada pelos pintores renascentistas, o
aspecto luminoso projetado serviu de referencial para a body painting.
Descorporificação e recorporificação. A coluna virtualizada pela luz,
virtualizada pela tinta e virtualizada pela própria potência sugestiva que o
movimento das costas e os ossos sobresalientes guardam.
A proposta era trabalhar com o suporte tecnologico que
estivesse a mão. Um macbook, um projetor de slides com inúmeros diapositivos,
canetas laser e uma camêra digital caseira para documentar a ação. Experimentar
sobreposições de imagens no meu corpo. No monitor meus
duplos repetiam a ação de comer bolacha ou simplesmente contemplar o ambiente
modificado pela luz. Duplos virtuais que destendiam a ação, como ecos
tecnológicos perdidos no tempo.
Os slides, ora desenhavam na minha pele tons cromáticos
variados me hibridizando com o desenho
luminoso, ora revelavam imagens da parte de dentro do corpo; coluna, artérias,
pulmão entre outras imagens aleatórias. A noção de “corpo esquadrinhado”
proposto por Santaella(2002)sempre me interessou como uma possibilidade de
conhecer aspectos físicos não visíveis do corpo. Máquinas para diagnósticos
médicos que vigiam o corpo e o revelam por dentro sem a necessidade de
cortá-lo; ressonância magnética, raios-X dos ossos, ecogafia, tomografia e etc.
Imagens estáticas ou em movimento dos organismos que nos compõem. O corpo
completamente desvelado nos seus contornos mais íntimos, dessexualizados e
devolvido em forma de imagens, que agora se mesclam com a superfície do meu
corpo.
Os lasers ampliaram a textura na superfícies dos objetos e da
minha pele. Uma experiência temporal e
cromática onde eu procurei conservar uma corporalidade cotidiana, não
representacional. O foco era na vivência estética construída naquele momento.
Uma primeiríssima experimentação.