Na tentativa de enumerar e classificar as
várias maneiras que os textos literários se agenciam entre si, o crítico
literário frances Gerard Genette chega a cinco tipos de transtextualidade,
tendo a nocão de palimpsesto o conceito no qual ele vai se debruçar mais
longamente no seu livro Palimpsesto: literatura de segunda mão:
Um palimpsesto é um pergaminho
cuja primeira inscrição foi raspada para se traçar outra, que não a esconde de
fato, de modo que se pode lê-la por transparência, o antigo sob o novo. Assim,
no sentido figurado, entenderemos por palimpsestos (mais literalmente
hipertextos), todas as obras derivadas de uma obra anterior, por transformação
ou por imitação... Um texto pode sempre ler um outro, e assim por diante, até o
fim dos textos... Quem ler por último lerá melhor.
Fica evidente na definiçao de palimpsesto
o desenho de um texto que só existe por consequências, em virtude dos
precedentes do qual ele nasceu. O texto atual é culpa do primeiro,
não existiria ou seria outro sem essa
anterioridade capital. Mesmo que o texto origem não apareça diretamente no
texto último; o palimpsesto opera através de transformações segundo genette. criação textual utilizando características
que são evocadas, que estão por baixo, em uma zona subterrânea que lhe servem
de base.
Da
mesma forma, a maneira como as imagens, textos e sons nascem na minha prática
podem ser lidos como um jogo palimpsestuoso. Ainda que Genetti utiliza a
metáfora do pergaminho raspado para definir aspectos relacionais entre textos,
aqui, a metáfora transborda, se estende para o terreno das diferentes
linguagens que se agenciam entre si partindo de um mesmo ponto para criação do
texto espetacular. O conteúdo de uma linguagem sendo evocada no conteúdo da
linguagem seguinte. O esquema abaixo ilustra o jogo palimpsestuoso.
Imagem
1----------} texto-----------} imagem 2---------} música = texto espetacular