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Comentários sobre o processo criativo por Felipe Gue:
Poucas vezes racionalizei meu processo criativo musical. De certa forma, por conta de uma formação musical e artística autodidata, transito entre o instinto e certa postura primitiva. Ao longo da carreira, no entanto, noto que respondo muito bem a diálogos artísticos como ponto de partida. Tratei assim, o novo desafio. Como um diálogo aberto transdisciplinar. No plano das artes, no sentido que vai um pouco além do simples estético, mas da vivência mesmo, do homem sensível, afetado por suas angústias, desejos, delírios transcendentes. No meu caso, ao invés de traduzir racionalmente tais impulsos, me aproximo deles, vivencio eles como uma espécie de alívio. Cura? Tenho acesso a esses lugares de sonho e projeção mental, por conta desse momento de vigília, de reflexão, que na maioria das vezes acontece após as ocorrências artísticas (o elán, a ação), nesse próprio momento de narrar o texto. As imagens fortes que o Lisandro me passou, me levaram a uma busca por alívio; a tensão e o desespero que procuram sua antítese dialética. Mas para não competir ou operar o desaparecimento do objeto inicial (a imagem, propriamente), oscilei as atmosferas sonoras entre seus próprios limites. A microfonia em oposição ao ambiente. Fugi do silêncio, pois é uma imagem inquieta, que não me permitiu calar. Ou melhor, que me levou a calar, mas como naquele monólogo interior; digerindo (e questinando, matando, por que não?) o que possuo de humano como espécie; compartilhando, então, essa culpa, esse remorso representado nas imagens que estamos, de forma perene, reproduzindo ao longo de nossa existência (experiencial, vivencial e material, seja no cosmo ou nesse espectro que podemos nomear de virtual). Quem foi essa criança? O que ela ainda é? Tentei imaginar isso em sons...
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